sexta-feira, 18 de maio de 2007

Vitórias no casamento

- Vamos?
- Calma, deixa terminar o jornal.
- Ah, não. Toda vez é isso.
- É... toda vez é isso. Você me chama pra fazer alguma coisa na hora do jornal, eu digo "Tudo bem, deixa terminar o jornal". Você se arruma e fica me apressando! Espera aí, agora.
- Seu grosso.

Resolveu ignorar. Aprendera finalmente a melhor maneira de acabar com uma briga: calar-se. Deixá-la gastar toda sua munição oral e simplesmente ignorá-la. Às vezes ela parecia notar e enchia-se de ar para começar um segundo round.

- Alô? Você está me escutando? Você está ouvindo o que eu estou falando com você?

Também aprendera como superar esta nova etapa de uma discussão.

- Tá bom.
- Tá bom o quê?
- É, eu acho que você está certa.
- É? Mas por quê?
- Porque você tem razão. Acho que estou errado mesmo.

Simples assim. Era tudo o que elas queriam: razão. Acreditar que alguém as ouve e se importa com seus problemas pessoais como a amiga que não teve tempo (ou não quis) ouvir suas lamúrias ou aquela perua invejosa do trabalho que comprou um perfume igual ao seu. Os problemas femininos tornariam o planeta Terra em algo cor de rosa com cheiro de lírios. Talvez devessemos dar mesmo razão a elas, mas não somente razão, também poder, decisões e as contas de casa. Assim quem sabe veríamos a Terceira Guerra Mundial acontecer porque a primeira ministra alemã copiou o penteado da moderníssima e chiquetérrima presidente americana. A bomba atômica seria feita de purpurina enriquecida.

O jornal acabou, era hora de se levantar e enfrentar o terrível momento de companhia. Como a solidão lhe era solidária. Sentia muitas saudades disso. Tomou banho e se arrumou.

- Pronto?
- Pronto.
- Ah... agora eu perdi a vontade de ir.
- Acorda pra vida, minha filha. Decide o que você quer, eu podia estar assistindo o Discovery agora.
- Às vezes eu me pergunto porque estamos casados.

"Essa é uma pergunta que eu sempre me faço!", pensou. Mas resolveu calar-se, o alarme da discussão soara. Decidiu ir ao banheiro para quebrar o clima. Entrou, urinou e ao sair dirigiu-se diretamente ao chaveiro pendurado na parede. As chaves do carro seriam as chaves do paraíso, a discussão não ocorreria.

- Ei, não vai me esperar não?
- Então vamos, eu já te chamei.

Saíram, entraram no carro e dirigiram-se para o mercado. O momento mágico da dominação feminina. Poucas vezes precisou intervir nas compras de casa. Isso sempre quando o orçamento estava apertado, o que, infelizmente, era o caso desta vez.

Arroz... feijão... carne... macarrão... produtos de limpeza... essa era a parte perigosa, quase tão perigosa quanto a sessão de produtos de beleza. Toda mulher adora pensar que sua casa é uma fortaleza contra as bactérias, não é à tôa que quase todos os produtos de limpeza são bactericidas. Recentemente enquanto estava reinando absoluto no banheiro decidiu ler o rótulo do Bom Ar (ele sempre lia alguma coisa): "O produto em contato com a superfície inibe o crescimento das bactérias *Staphylococus aureus *Salmonella cholerausuis * Tricophyton mentagrophytes". "Talvez os produtos de beleza femininos também sejam bactericidas.", e achou graça da ingenuidade feminina.

Ela pegou uma embalagem de um produto verde com cores chamativas. Era um alvejante de segunda categoria que contratara um bom designer para desenhar a embalagem. O preço era bom, bem abaixo do preço do produto mais badalado do mercado e fazia a mesma coisa. Ela sabia que tinham restrições orçamentárias este mês, e ele sabia que ela iria querer levar o produto mais caro. Resolveu a estratégia de sempre.

- Não, querida, vamos levar este aqui. - disse mostrando o produto mais caro.
- Mas este é mais caro, você sabe que estamos sem dinheiro e agora quer gastar à tôa.
- Eu não perguntei se é mais caro, eu estou falando para levarmos este aqui!
- Seu ignorante! Grosso! Será que nada do que eu escolho serve pra você?

Conseguira o objetivo. Agora ela iria querer contráriá-lo. Bastava ignorar sua diarréia verbal, aquele mesmo discurso chato de sempre. Ignorá-la até ela se irritar.

- Você está me entendendo?
- Tudo bem então, você tem razão. Vamos levar esse daí.
- Você nunca me escuta!
- Estou escutando agora. Você está certa, vamos levar este.
- Se você tivesse me ouvido desde o começo a gente não estaria discutindo.
- Tudo bem, amor. Agora vamos.

Ela pôs o alvejante vagabundo no carrinho e continuaram a fazer as compras. A técnica seria aplicada mais algumas vezes e eles iriam embora felizes, ambos vitoriosos a seu modo.

7 comentários:

Daniela Andrade disse...

que conto machista, paullus castro!!!!!

Unknown disse...

Confesso que saiu um pouco machista, mas na verdade ele é fruto de uma alma amargurada com esse treco chamado casamento.

Agora quando eu quiser ofender alguém ao invés de mandar tomar no cú vou mandar ir se casar.

Daniela Andrade disse...

hahahahahaha

tudo é pessoal, ao contrário do que prega o Poderoso Chefão.

não tem nada pra me contar não, por falar nisso?

=****

hires héglan disse...

ai... eu vou me casar, hehehe

hires héglan disse...

só uma observação: o fascinado por bacteridas não sou eu... o que torna meu casamento bem mais fácil, hehehehe
=*

m.elissa disse...

hauehaueh...queria ver o lado feminino disso tudo, também seria bem interessante...

Anônimo disse...

você escreve muito bem... mas seu comentário sobre casamento é resumido à discussão e brigas patéticas. Existe outro lado, sabia? E talvez seja por causa desse outro lado é que as pessoas casam. Ah, lembre-se, Paullus, vc é muito novo.. em breve, desejará ardentemente se casar... e ter filhos! Mas não se esqueça: se quiser casar e ser feliz, continue solteiro. Mas se quer casar para fazer alguém feliz, VOCÊ será a pessoa mais feliz do mundo.