segunda-feira, 14 de maio de 2007

Dudi e o chá

Dudi era um cara legal. Legal mesmo. Desses que a gente conhece a vida inteira, tipo um vizinho que empresta açúcar e não cobra, ou um colega de trabalho que não te manda correntes via e-mail, ou ainda aquele tio que mora longe e a gente só vê no natal. Dudi estudava administração, morava com os pais, não usava drogas [lícitas ou ilícitas], estagiava em uma empresa prestadora de serviços e tinha um amigo de infância com quem jogava futebol de botão.

Ele não era necessariamente virgem, mas ainda não tinha feito sexo com nenhuma universitária [não sei bem o porquê, mas aparentemente a universidade é um período de atividade sexual intensa – e de estudos também, claro]. O amigo do futebol de botão tinha dito a ele que as universitárias eram experientes e dispostas a tudo, e Dudi lembrou com um peso no estômago dos carinhos afobados que recebia da namorada no colegial. Queria uma noite de sexo selvagem, se possível com duas ou mais universitárias, pra se sentir menos fracassado.

E tinha aquelas festas para as quais ele nunca era convidado, e aconteceu de o convidarem para uma. Ele sempre ouvia falar que tais festas eram regadas a álcool, drogas e sexo, e nunca esteve tão empolgado. Nem quando foi consultor junior da empresa do colégio. Ficou meio deslocado no começo, não viu nenhuma menina, quis ligar para o pai pra que ele fosse buscá-lo, até que alguém finalmente se aproximou dele e puxou assunto.

__ Você é calouro?
__ Não, já estou no quinto período. E você?
__ Nunca vou me formar. Não há vida após a universidade.
__ Hum.
__ Quer um chá?
__ Chá? Chá de quê? Achei que vocês bebessem cerveja.
__ É chá de cevada, dá na mesma, até mais saudável. Bebe aí.
__ Acho que não vou aceitar, muito obrigado.
__ Deixa de ser fresco. Bebe isso logo.

E Dudi bebeu o tal chá de cevada. Tinha um gosto horrível e uma cor de embrulhar o estômago, mas ele bebeu. Bebeu pra se sentir mais universitário. Bebeu pra se sentir homem, como aquele cidadão que falara com ele espontaneamente.

Pouco a pouco Dudi foi mudando, sentindo várias coisas ao mesmo tempo. Inicialmente ficou assustado, mas as percepções sensoriais dele indicavam que tinha algo novo e bom acontecendo. De repente ele quis cumprimentar a todos, de repente ele gostava da música que tocava, e podia sentir cada instrumento ritmado com os movimentos de seu próprio corpo. Se aproximou de uma garota que aparecera do nada e perguntou se ela também bebeu o tal chá.

__ Chá de cogumelo? Eu não, é nojento.
__ Não, eu falo do chá de cevada.
__ Não é chá de cevada, calouro. É chá de cogumelo.

Dudi lembrou-se com certa dificuldade das aulas sobre drogas alucinógenas que tinha com o pai, delegado da polícia civil. E sabia que chá de cogumelo não era coisa boa. A menina olhou pra ele com pena e o encaminhou até um quarto. Deitou Dudi na cama e foi atrás de água para ele.

__ Toma, calouro.
__ Não sou calouro. Sou um xamã.
__ Eu sei. Agora bebe a água.
__ E como vou saber se é água de verdade?
__ Bebendo, xamã.
__ Você me acha um idiota.
__ Cala a boca e bebe logo. Vai demorar a passar. Mas vai ser bom. Eu não bebo, mas meus amigos bebem e acham o máximo.
__ Você quer fazer sexo comigo? Eu nunca fiz sexo com uma universitária.
__ Você já fez sexo com alguém?
__ Já. Mas faz tempo. E ela não era universitária.
__ E qual é o lance com as universitárias?
__ Elas são quentes.
__ Ah. E como você sabe, se nunca fez sexo com uma?
__ Meu melhor amigo disse. Ele também é um xamã. E já fez sexo com um monte delas. Quero dizer, de vocês.
__ Tá bom. Fica um tempinho aí, já volto pra gente fazer sexo.

Dudi permaneceu deitado, olhando para o teto, sentindo-se capaz de tudo aquela noite. Pouco depois a menina voltou para o quarto, tirou a roupa e se deitou ao lado dele. Conversaram sobre o sistema solar, horóscopo e Ângela Rorô.

__ Quando a gente vai fazer sexo?
__ Já fizemos sexo. Acho que três vezes.
__ Você também tomou chá?
__ Não. Só fumo maconha.
__ Ah. Posso te ver nua?
__ Já estou nua.
__ Eu sei. Mas eu posso ver?
__ Pode.

Dudi olhou e nunca viu tanto pêlo pubiano na vida. A menina não devia ter feito uma única depilação.

__ Você não se depila?
__ Não. Por quê? Você não gosta?
__ Não faz diferença. Mas por que você não se depila?
__ Dá trabalho. Você já se depilou?
__ Não. Mas eu imagino. Deve dar trabalho mesmo.
__ Dá. Dá muito trabalho.

Dudi fixou o teto, mas a toda hora desviava o olhar para os pelos pubianos da menina que ele sequer sabia o nome. Aquilo o intrigara. Devia haver alguma forma de otimizar a depilação, para que não desse tanto trabalho para as meninas, e para que os rapazes não tivessem que se deparar com aquela visão minimamente grotesca. Porque Dudi não achou nada poético aquela profusão de pelo pubiano entre as belas pernas da moça.

O efeito do chá não passava nunca. Ele continuava se sentindo um xamã, e sabia que podia resolver o problema da sua nova amiga. Levantou-se com alguma dificuldade e foi até o banheiro. Pra conversar consigo mesmo.

__ Fala, Dudão.
__ Só meu pai me chama assim.
__ Pois é. Faz de conta que sou teu pai e ouve. Eu sei que você tá querendo arranjar uma solução pra isso aí. Isso aí que você viu e não gostou.
__ É feio. E anti-higiênico.
__ Então. Pensa num jeito. Eu tenho um jeito, quer ouvir?
__ Quero. Me conta aí.
__ Mas você tem que fazer tudo que eu disser, Dudão. Do jeitinho que eu disser.

Dudi saiu do banheiro horas depois com uma idéia completamente revolucionária na cabeça. Nem se preocupou com o fato de seu pai ter percebido que ele tomara o tal chá de cogumelo. Nem se preocupou por ter voltado ao quarto e sua colega não estar mais lá, e sim ter dois caras vomitando na cama que ele estivera deitado. Nada mais o preocupava. Dudi tinha encontrado uma solução.

Saiu da faculdade, montou seu negócio, ficou rico e fez sexo com todo tipo de mulher.

Dudi, o cara legal, criou o conceito de fast-depil enquanto estava sob o efeito do chá de cogumelo. Era simples. Tempos modernos. Uma funcionária depila, a outra higieniza e uma última hidrata. Tudo em quinze minutos, modo de produção industrial. Dudi conquistou o mundo com sua cadeia de depilação. E ainda servia cafezinho de graça. Ou chá, caso preferisse.

6 comentários:

hires héglan disse...

o dudi, cara legal!
=]

Unknown disse...

Viva o indivíduo que extingüiu o jeito Cláudia Ohana de ser!
:-P

Unknown disse...

HAHAHAHAHAHAHA
só o paullus mesmo!

Daniela Andrade disse...

me parece que a Vera Fischer também curtia isso de ser al natural, né?

=P

Unknown disse...

Eu pensei em falar dela, mas lembrei que o ensaio dela estilo "matagal desvirginado" foi intencional. Ao que parece ela não tem o triângulo das cabeludas

Daniela Andrade disse...

esse blog também é cultura