sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Carta de agradecimento

Oi, Lisa, tudo bem? Desculpe-me o jeito assim, informal, de escrever, eu nunca fui muito de palavras e você sabe disso, assim como sabe que eu falo enquanto durmo, que eu gosto de leite com chocolate de manhã e assim como você sabe tudo mais que se possa saber a respeito de minha pessoa porque você, Lisa, você foi a única pessoa com quem eu convivi de verdade.

Por você eu abandonei todos os meus vícios e manias, adqüiridos ao longo de vinte anos de solidão e isolamento. Você foi a única pessoa que pôs fim à minha misantropia. Depois que você entrou em minha vida tudo mudou. Graças a você aprendi a tratar decentemente as pessoas, independentemente de quem elas sejam ou do que elas tenham feito no passado, porque a vida começa sempre agora e sua única direção é o futuro. Sua alegria de viver mudou meu humor e os planos que você tinha para o futuro eram deslumbrantes e contagiantes.

Lisa, você realmente foi a pessoa que apareceu na minha vida para me tirar do lamaçal fétido em que eu vivia, sempre sufocado pelos meus rancores, pelos meus desgostos e preso pela minha falta de fé e de esperança em um futuro decente para mim, ou para qualquer ser vivo da espécie humana. Hoje vivo meus dias com grandes planos e procuro sempre concretizá-los, como aquela viagem à Inglaterra que eu sempre te falei. Os pubs londrinos são indescritíveis.

Hoje faz um ano que nos separamos, e eu só achei que eu devia isso a você. Eu aprendi tanto com você a respeito da vida e a respeito do que é viver que seria, no mínimo, falta de respeito se eu voltasse a ser o homem de outrora. Eu queria dizer também que eu ainda te amo, e muito. E que você não faz idéia da falta que me faz o seu sorriso, o seu cheiro, os cafunés que você me fazia de manhã, as suas ligações ao cair da tarde sempre me pedindo para levar alguma coisa diferente para o jantar. A sua ausência, a princípio, quase me levou à loucura, tanto que eu quase voltei a ser aquela criatura sorumbática de antes, mas me apeguei firmemente a tudo que aprendi com você, às nossas lembranças e à alegria de viver que você me ensinou. Não valia a pena voltar ao buraco negro onde eu me escondia.

Prometo te escrever sempre, e te amar ainda mais com o passar dos anos, até o dia em que ela vier me buscar também. Aí então poderemos viver juntos novamente.

2 comentários:

Daniela Andrade disse...

pra uma alma amargurada como a sua, ler um texto assim me traz a certeza de que, no fundo, você ainda é capaz de amar desesperadamente.

gosto desse seu outro lado, amor meu. e adorei ler a palavra "sorumbático".

lucianapuzzi disse...

muito bom o texto...bem sincero, qta nobreza, conseguir guardar as coisas boas, apesar do fim...mto bom mesmo!