quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O bilhete

"Linda...Não tinha outras palavras para descrevê-la. Achava-a simplesmente linda... a perfeição do gênero feminino.Ele, estudante de medicina, admirava-a todos os dias enquanto percorria o caminho que o levava à Universidade. Ela, uma garota de família simples, estava sempre auxiliando a mãe nos afazeres domésticos. Sua casa ficava à beira da rua que o jovem estudante percorria todos os dias.

O tempo foi passando e o rapaz alimentando cada vez mais aquela paixão, até que decidiu, enfim, tentar uma investida. No entanto precisava, de alguma forma, certificar-se de que a moça não tinha nenhum pretendente oficial.

De tanto passar em frente à casa, mesmo quando não havia necessidade, ele sabia qual a janela do seu quarto. Aguardando o anoitecer começou a percorrer o caminho sinuoso que levava à Universidade. Em uma curva, ao lado da pequena ruela adjacente à janela da moça, ele parou a charrete, temendo que o barulho dos cascos dos cavalos pudessem despertar a jovem amada ou, pior, a futura sogra.

Caminhando, escondendo-se atrás de árvores e outros objetos comuns nas ruas da época, ele acabou aproximando-se da janela da moça e enfiou o bilhete por uma fresta da janela de seu quarto escuro. Logo após afastou-se rapidamente e retornou para a charrete, com medo de que o simples barulho do papel esfregando na madeira da janela desbotada e descascada da jovem pudesse acordá-la.

O bilhete:
'Perdoe-me pela ousadia, mas não poderia deixar de expressar todo este amor tão puro e maravilhoso, que preenche o meu coração, simplesmente ao ver-te auxiliando tua mãe nos serviços do lar. Gostaria de apresentar-me, no entanto receio que já tenhas outro pretendente. Poderia deixar na tua janela esta noite um bilhete me dizendo se já és prometida a alguém?'

Naquela noite o jovem universitário não dormiu... no dia seguinte não foi à faculdade. Passou a noite e o dia pensando na mulher amada. Pensou em como se apresentaria à mãe da jovem, como seria seu casamento, pensou nos filhos; chegando até mesmo a batizá-los e imaginar a carreira de cada um. Sim, ele estava se deliciando com seu amor, que em breve deixaria de ser platônico... se tornaria real. Se concretizaria na carne e teria em seus filhos a representação viva de uma história de amor verdadeira, sublime, terna e amena, como todos os grandes verdadeiros amores.

Ele já havia lido bastante a respeito, e imaginava para seu futuro todas as histórias de amor que já havia devorado na adolescência. Inútil... era assim que seus pais chamavam todas as histórias de amor que lia. Pois bem, ele lia muito mais do que apenas romances, ele lia a história da própria vida, e agora era a oportunidade de provar isso aos pais. Sim, nada se oporia ao seu caminho de felicidade!!!

Ao anoitecer, começou a preparar-se para receber a resposta da mulher amada. Imaginou-a esperando por ele na janela, com um sorriso lindo e olhos curiosos aguardando aquele que declarava a ela um grande amor. Perto da grande hora, quando o hoje está prestes a se tornar amanhã, ele decidiu ir receber a resposta.

Repetiu o mesmo ritual da noite anterior. Não encontrando a jovem amada decepcionou-se, sua mente, obcecada pela idéia de ter a mulher amada à sua espera, quase o leva ao colapso. No entanto a ponta do papel estava visível na beira da janela. Subitamente uma onda de calor e alegria, palpitação e ofegância, um sorriso que insistia em permanecer no rosto; tudo ocorreu ao mesmo tempo.

Receoso de ler o bilhete ali, no local, voltou correndo à charrete e rumou para casa. Lá chegando, entrou correndo esbaforido para dentro de seu quarto. Jogou-se na cama de barriga pra baixo, um sorriso ardente em seu rosto; rapidamente retirou o bilhete do bolso e o abriu. Lá encontrou somente uma linha que dizia: VÁ TOMAR NO CÚ!"

Escrito por Paullus Castro em 12/05/2006

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