terça-feira, 2 de outubro de 2007

Ponto final

Eu posso até me arrepender de estar te escrevendo, porque certas coisas são tão danosas que o simples fato de dedicarmos-lhes atenção já é uma coisa nociva ao nosso próprio bem-estar.

Aquele dia eu te fiz a pergunta errada com o sentimento certo. A verdade é que eu não consigo racionalizar meus sentimentos com muita facilidade, ainda mais quando a necessidade de fazê-lo se manifesta assim, de maneira tão repentina. Como eu disse, eu não sei “jogar” de outra maneira, sou sincero e espontâneo, mesmo quando isso me prejudica por ter a necessidade de manifestar urgentemente o que eu sinto e esta urgência não me permite formular corretamente uma pergunta ou uma afirmação que defina meus sentimentos com clareza. A pergunta correta a ser feita domingo seria: “Por que pra você estou sempre em segundo plano?”

A resposta eu já tenho (na verdade eu sempre tenho essas respostas, nem sei por qual motivo ainda pergunto). A resposta é: porque eu mesmo deixo. Eu me entrego com facilidade, talvez por viver o passado. Eu revivo a paixão de nove anos atrás e me entrego àquela menina que eu conheci quando ela ainda tinha quinze anos, andava de skate e parecia estar começando a gostar de alguém pela primeira vez na vida, e esse alguém aparentemente era eu.

E quando eu me entrego assim com facilidade, me torno cego para a pessoa que você se transformou nesse tempo, que eu não tenho direito algum de julgar, mas que eu desconheço quase completamente. Só conheço essa capacidade de aparecer de repente e causar estragos na minha cabeça e no meu coração. O mais hilário disso tudo é constatar que sou eu próprio que te outorgo esse direito, porque se você me faz tanto mal assim é pura e simplesmente porque eu mesmo deixo.

Eu poderia lutar contra tudo e contra todos. Poderia propor que fossemos contra todas as adversidades porque é assim que um relacionamento de verdade cresce e se transforma em algo que muda as nossas vidas e nos marca para sempre, mas por que falar isso tudo se eu sei que seria uma batalha em vão? Eu estaria te propondo algo que você poderia aceitar racionalmente, mas que você nunca pensou em fazer de verdade com seu coração. Basta olhar para trás e ver a facilidade com que me largou sempre, sem nem mesmo se dar a oportunidade de experimentar algo que poderia ser diferente e transformador em sua vida, mas que você tem medo de viver. Eu imagino que é desta maneira que as coisas se passam aí dentro de você.

Eu ainda procuro imaginar por qual motivo você às vezes me procura assim do nada, o que se passa na sua cabeça ou no seu coração: quando faz isso e também quando decide alçar vôo e me largar com um punhado de esperanças no coração e um monte de projetos na cabeça.

Sendo sincero, eu, atualmente, achava que estava imune a isso tudo, tendo em vista que há muito tempo esse tipo de coisa não me acontece de jeito nenhum, mesmo porque, como eu disse, não dou esse direito a ninguém, só me resta saber e entender porque ainda permito que especificamente você o faça.

Com base em tudo o que eu já vivi, nos meus sentimentos e no atual contexto da minha vida, só me resta desejar novamente que você consiga achar o seu caminho, se concentrar naquilo que realmente te importa e te deixar um conselho muito importante: não deixe que os outros ditem a forma como você deve viver, ou o que deve fazer para ser feliz. É a terceira vez que você vai embora contra a sua vontade e por causa de outras pessoas (ou então você mente para mim quanto às suas razões).

Eu finalizo a carta pedindo a você que realmente não me procure mais, porque dessa vez o estrago foi grande. Maior até do que você pode imaginar, e como você foi a causa direta, nada mais certo do que te informar.

Seja feliz.


Sem nomes e sem datas. É melhor que seja assim...

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