domingo, 26 de agosto de 2007

Romance

Ela, a romancista, se encheu de arroubos românticos. Ela, que não usava apelidos carinhosos, que não gostava de ser abraçada, que não via futuro numa relação entre ela e qualquer outro ser vivente, se encheu de arroubos românticos. Encheu a casa de flores, cantou música brega em voz alta, ligou para a melhor amiga e narrou o acontecido como quem narra um conto de fadas, como se ela estivesse a falar das páginas de seu mais novo romance. Mas não era um romance literário, fictício. Era um romance real, impregnado de poesia e verdade. Ela, a romancista, se apaixonou por um cachorro.

Deu a ele o nome de seu último namorado, aquele ser maldito que merecia tortura selvagem. Comprou casinha, comprou almofada, coleira com pingente, gravou o nome dele no pingente e saiu pra passear no domingo. Parecia a mulher mais feliz e bem-amada da face da terra, ao lado do seu cachorro, o ser vivente mais feliz e bem-amado, que tinha encontrado sua outra parte no mundo. Viveram em lua-de-mel por onze anos, até que ele faleceu de velhice.

Ela, a romancista, perdeu a inspiração. Perdeu o prazo da editora. Perdeu o prazer pela vida. Encheu a cara no bar, brigou com o cara da sinuca e acabou fazendo sexo no banheiro com um dos garçons. Ela, a romancista, não queria mais escrever. Até que se apaixonou pelo garçom. Ela conseguiu voltar a escrever, recuperou o prazo na editora e continuou ganhando rios de dinheiro narrando romances. Viveram uma história de sexo, loucura e bebedeiras por longos cinco anos, até que ela foi trocada por uma gerente de um restaurante.

Ela, a romancista, perdeu a inspiração de novo. Estava sem editora, estava sem amor, estava sem sexo há duas semanas. Ela, a romancista, decidiu que não dava pra viver assim. Foi até uma sex shop e comprou um consolo, alguns pornôs e chamou as amigas para uma girls night. Beberam champagne, deram risada e a romancista acabou ficando com a amiga lésbica de uma de suas amigas.

Mas não se apaixonou. Foi uma noite e nada mais. Porém, a amiga lésbica de uma de suas amigas deu a ela a idéia de escrever uma autobiografia, mas em nome de outra pessoa, e depois dar escândalo dizendo que a tal biografia não era autorizada.

Ela, a romancista, escreveu a autobiografia, registrou com um pseudônimo, foi aos jornais, deu escândalo e o livro vendeu feito água no deserto.

Ela, a romancista, estava podre de rica. E decidiu parar de escrever. Foi viver no mato, plantando pimenta, como dizia a música. Apaixonou-se pelo caseiro, tiveram três filhos e ela, a romancista, foi feliz pra sempre.

Um comentário:

Dany Lynn disse...

ahhhh
colocou a romancista aqui tb..

Eis o lugar certo para ela.
^^

Sera meu fim??
Acabar no capo com o caseiro e um bando de filhos??
oO
hauhaua

te amo