quinta-feira, 21 de junho de 2007

Precipitação

O telefone toca no meio da madrugada, insistente e inconveniente. Enquanto desperta de seus pesadelos carregados de demônios do passado, o som se torna cada vez mais alto. No começo parece aquela coisa distante... constante e insistente. Até que o sonho se mistura à realidade e ele percebe que acordou, que o telefone está tocando, que o tempo está passando, que o telefone está tocando, que ele está de volta à realidade e o telefone está tocando.

Aquele sentimento que parece uma mistura de alegria e ao mesmo tempo tristeza invade-lhe o peito. Seus pesadelos o atormentam constantemente com as pessoas mortas de seu passado, mas a realidade é por demais dolorosa. É preferível sonhar com a morte de cada um de seus amigos a conviver com a certeza de que eles estão mortos. Em seus sonhos estão todos tão vivos, com rostos corados e cheios de carne, ao passo que agora, desperto ele sabe que lhes sobram apenas os restos mortais. Cadáveres carcomidos, roídos pelos vermes e pelo tempo.
Ele se levanta e caminha em direção à sala trombando nas paredes, os olhos desacostumados à falta de luz. O telefone para de tocar. Ele acende a luz, olha para o relógio de parede: 03:40h da madrugada. Desperto, sabe que não voltará a dormir. Abre a janela, acende um cigarro e se serve de uma dose de vodka. O telefone começa a tocar novamente.

Ele puxa um trago do cigarro, toma outra dose de vodka e fica se perguntando se deve atender ou não a ligação. E fica lá parado com a fumaça ainda dentro do peito, encarando o telefone fixamente e pensando o que mais poderá ter acontecido. A esta hora com certeza é alguma emergência.

Essa é uma cena como muitas outras que já viveu. Com certeza outra pessoa querida morreu. Tem sido assim nos últimos anos. O telefone toca de madrugada, ele atende e recebe a notícia da morte de algum amigo, ou de algum parente. Não consegue mais suportar o peso da saudade em seus ombros. Pai, mãe, dois irmãos, diversos amigos: o telefone toca, e a morte se faz presente. Putrefata, nefasta e pérfida a morte estava batendo novamente à sua porta agora.

Ele levanta, caminha em direção ao armário, pega o seu revolver calibre trinta e oito, destrava a arma, abre o tambor, coloca uma única bala, aponta a arma contra a cabeça e aperta o gatilho.
O peso do corpo o puxa livremente para o chão. Queda livre. E o telefone continua a tocar...

6 comentários:

Daniela Andrade disse...

caralho, paullus, tu é foda.

tem essa coisa tua, meio sombria, que me assusta e me encanta ao mesmo tempo.

tsc.

coisa de quem tem sangue literato na veia. coisa de Nava.

Daniela Andrade disse...

isso aqui tá tão abandonado ultimamente...

Unknown disse...

Tá nada, rapaz... a gente só não tem recebido comentários, mas são praticamente mais de 20 visitas diárias.

Pra um blog que mal tem 2 meses de idade tá excelente. Eu sei bem como é blog iniciante, e até mesmo pelo assunto abordado, a gente tá indo muito bem.

;-)

Victor Hugo disse...

Ow mlk ta atormentado?!?!?

zuera... Massa o post... eu estava pensando de onde você tira tantas ideias macabras... por que não escreve um livro?

abraço mlk!!!

Daniela Andrade disse...

não falo com relação a visitas ou comentários, falo com relação às postagens...eu ainda estava em rio branco quando você postou esse último!

Unknown disse...

mas eu falei que só postaria uma vez por semana... senão eu não trabalho.
rs