segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Amar é para os loucos

Sábado à noite, eu estou tentando terminar de me arrumar e fico aguardando um telefonema que eu sei que não vou receber de uma pessoa por quem estou apaixonado mas que só sabe da minha existência por mero acaso do destino. Onde diabos eu estava com a cabeça quando dei meu telefone a ela assim, sem mais nem menos?! Ela deve ter aceitado por pena. Não que eu seja uma criatura feia horrendamente grotesca e digna de pena por possuir uma aparência miserável, muito pelo contrário, sou até bem-apessoado, ás vezes até acusado de ser bonito, mas o fato é que entregar assim, de maneira tão subserviente, o meu telefone com aquele maldito olhar-de-cachorro-sem-dono, que eu luto para não fazer, mas minha personalidade patética e humilde insiste em manter, é uma coisa de realmente dar pena em qualquer ser humano que tenha um bom coração, imagine então em pessoas como Madalena, que possui a fama de ser a mulher mais cruel com quem um homem pode cruzar em sua patética vida.

Madalena... Madalena... ruiva de olhos azuis, corpo esguio, busto farto e um quadril de deixar louco o mais sério dos homens. Foi criada com a melhor embalagem e o pior conteúdo. E enquanto eu termino de me arrumar para sair e ver se me encontro com essa mulher que é a minha doença, a minha paixão e o meu desespero, não deixo de pensar no quanto eu sou ridículo, talvez até mais ridículo que meus predecessores porque eles foram humilhados sem nem saber com quem lidavam, ao passo que eu já conheço toda a história de Madalena. Sou uma ovelha procurando pelo lobo.

O telefone toca, eu corro feito um louco para atender. Retiro o telefone do gancho, tento me recompor, afinal de contas correr 3 metros com obstáculos é uma tarefa que tira o fôlego de qualquer fumante. Regulo a respiração, coisa que infelizmente não consigo fazer com meu coração que bate de maneira louca e desordenada ante a expectativa de ouvir a voz dessa mulher que para mim é ao mesmo tempo maravilhosa e obscura.

- Alô?
- Oi, quem fala?
- É o Jorge.
- Jorge é Madalena, tudo bem?
- Tudo.
- Então, meu bem, eu estava pensando em passar no Hell'o'rama hoje, aquela boate nova que abriu na Independência.
- Tudo bem pode ser.
- Compra uma carteira de cigarros pra mim, eu estou sem dinheiro.
- Claro, meu anjo. O que você quiser.
- Te pego que horas?
- Me encontra lá eu vou de carona com o Zé Luiz, meu ex-namorado.
- Tudo... tudo bem.
- Algum problema?
- Não de forma alguma, até logo.
- Até mais.

Desligo o telefone, em meio ao deslumbramento do telefonema, que foi tão esperado quanto inesperado, e à decepção de saber que ela não será somente minha nunca. Ela praticamente me avisou que eu não sou único na sua vida. Essa história de amizade com ex-namorado recente é conversa fiada. Ninguém mantém amizade com um parceiro de um relacionamento recém terminado a não ser que ainda haja sexo e cumplicidade. Agora estou indeciso entre a realização de um desejo voraz que me consome e me atormenta e a manutenção da minha dignidade, do meu amor-próprio. Ah, Madalena, não sei o que faria com você, mas tenho muito medo das coisas que eu faria sem você após tê-la possuído por um dia só que fosse.

Termino de me arrumar escovo os dentes e volto a me olhar no espelho me achando ainda mais patético que antes, talvez com um ar de homem humilhado, ultrajado por alguém que nem mesmo tem esse direito de ultrajar-me. Acho que estou ficando louco, dizem que amar é coisa de louco e eu concordo plenamente que as coisas se passam na minha cabeça em um turbilhão de sentimentos, lembranças, desejos e saudades de coisas que eu ainda não vivi de verdade, mas que minha mente, fantasiosa e infantil, criou e que no íntimo do meu ser eu acredito que foram cenas reais, que me renderam sensações carnais reais e das quais possuo até mesmo as cicatrizes que ninguém além de mim consegue ver.

Saio de casa, sigo direto para a Independência, lá chegando eu lembro que me esqueci de abastecer o carro e procuro o posto de gasolina mais próximo. Paro o carro e instruo o frentista:

- Completa, por favor.

Desço e vou á loja de conveniência comprar a carteira de cigarros e imaginem a minha surpresa ao encontrar Madalena aos amassos com o ex-namorado. E eu juro, por tudo que há de mais sagrado, não há sentimento mais humilhante para um homem do que ver outro concretizando o desejo mais íntimo que possui. Antes de ir ao balcão comprar o maldito cigarro eu caminho até o casal de pombinhos que está quase se comendo em público dentro da loja e mal nota a minha chegada, acendo o isqueiro e ponho fogo nos cabelos de Madalena. Ela demora a notar, mas quando dá por si já é tarde demais para salvar um fio de cabelo que seja. Então ela se põe a gritar e não sabe se chora se tenta me socar ou joga alguma coisa na própria cabeça para diminuir a dor das queimaduras no couro cabeludo. O pateta do ex-namorado ficou lá atônito sem saber o que fazer, olhava para Madalena, depois olhava para mim e permanecia imóvel com aquele olhar vidrado de quem não sabe o que está acontecendo ou às vezes até sabe o que se passa, mas não sabe como reagir à situação.

Eu avanço em sua direção, empurro Madalena em cima de uma estante de salgadinhos Elma Chips, o outro me olha com aquela expressão de medo. Ah... como eu adoro esse olhar de medo, ele nos torna mais fortes, mais destemidos, mais obstinados. Seguro o canalha pela gola da camisa e começo a socá-lo repetidamente. O primeiro soco pega logo abaixo da boca, ele tentou desviar. Eu bato a sua cabeça na parede com força, ele parece atordoado. O segundo soco é preciso: quebrei-lhe o nariz. Eu continuo a socá-lo e ele parece estar perdendo a consciência. Madalena se levanta e tenta me agredir. Eu a chuto, jogo o pateta do ex em cima dela e saio da loja de conveniência sob o olhar amedrontado de todos os presentes. Ninguém se atreveu a tentar me parar.

Volto para o carro pago o frentista e deixo uma gorjeta generosa. Ligo o carro e volto para casa, onde uma caixa de havanas e um Jack Daniels me aguardam. Amar é para os loucos.

2 comentários:

Daniela Andrade disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkk

perfeito!!!!!!!! agora eu entendi porque você riu tanto...eu estou morrendo de rir nesse momento!!!

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Dany Lynn disse...

Hum....acompanhei a Dani em suas gargalhadas, e agora estou com aquele tipico sorriso sarcático de quem acaba de massacrar algo (ou pessoas mesmo) que não agradava o olhar.
Amar realmente é para loucos. Lavar a alma com socos e chutes é para quem realmente leva essa loucura ao 'pé da letra'.

Excelente conto.