terça-feira, 4 de novembro de 2008

Casais

Caminhavam felizes pela calçadinha do parque, naquele pôr-do-sol típico de Brasília. Aquele céu encantador com suas tonalidades rosáceas, alaranjadas mesclando-se à negritude da noite que se aproximava.

Marcelo era alto, esguio e sorridente. Priscila era baixa, formosa e séria. A despeito dessa disparidade notória, formavam um casal perfeito. Suas discordâncias eram saudáveis e enalteciam as discussões do casal. Discussões das quais, não raro, ambos saiam com pontos de vista transformados, característica comum dos que estão abertos á novas idéias.

Combinavam em tudo, até mesmo nesse gosto provinciano de caminhar de mãos dadas ao final da tarde, enquanto o sol se põe. Caminhavam felizes conversando sobre a vida, o cotidiano e sobre os planos futuros.

Ele levava a vida como uma grande brincadeira o que fazia com que Priscila assumisse o papel da pessoa lúcida do casamento. Marcelo era a alegria que faltava a Priscila e ela era a seriedade que falta a ele. Uma relação simbiótica ímpar.

Nesta segunda-feira brasiliense típica eles caminhavam pelo Parque da Cidade, um casal de idosos ia à sua frente também caminhando, enquanto eram ultrapassados pelos atletas amadores, ciclistas de patinadores. Apenas caminhavam pelo prazer de estar lado a lado ao final de um dia de trabalho estressante.

- Sabe, amor...
- Hum...
- Não entendo como alguns casais não conseguem e manter juntos.
- Que papo é esse? Eu, hein...
- Ah, é que o Augusto lá do departamento tá se separando.
- Sério? Por quê? Aconteceu alguma coisa?
- Ah, eu perguntei a ele. Disse que não dá mais. Só isso.
- Como assim "não dá mais"?
- Foi o que eu perguntei. Ele só repetiu que não dava mais e saiu meio nervoso.
- E porque ele ficou nervoso?
- Foi o que eu me perguntei, mas não tive coragem de perguntar a ele. Na verdade eu acho que ele ainda gosta dela.
- Se gosta, por que vai separar?
- Porque não dá mais.
- Todo engraçadinho, você, né?
- Ah, amor. Eu penso nessas coisas e fico com medo de acontecer com a gente.
- E porque você acha que pode acontecer conosco?
- Não sei. Vai ver é só um medo bobo, mas não deixa de ser um medo.
- Eu não tenho medo.
- Não?
- Não. Quero você e pronto.
- Que bom então.

Abraçou-a. Enquanto conversavam aproximaram-se do casal de idosos que, inevitavelmente ouviu a conversa. Enquanto Marcelo e Priscila se afastavam abraçados e sorridentes, Seu João olha Dona Catarina. Abraça-a, dentro das possibilidades que seu corpo enrijecido permite e lhe beija a face.

- Foi assim que a gente conseguiu não foi, meu bem?
- Deixa de ficar ouvindo a conversa alheia, velho safado.

3 comentários:

manu disse...

tava até bonito o texto todo, mas nao teve como nao rir no final hahahahaha "velho safado". nada a ver, mas me lembrou bukowski hahaha

manu disse...

caramba, vocês escrevem muito bem, e esse blog é muito bom. parabéns!

life 2 disse...

esses papos de casais hein....
Sempre tem alguém com um medinho....
hahhahahahhahaha

tem mais é q se arriscar!