quarta-feira, 29 de julho de 2009

Devaneio

Ele vinha caminhando rua abaixo imerso em pensamentos. Em meio a seus pensamentos rápidos e atropelados divagava sobre tudo e sobre nada enquanto seu corpo caminhava automaticamente para lugar algum. Era como se o mundo ao seu redor não existisse até o instante em que chocou-se com outra criatura tão distraída quanto ele.

- Desculpa
- Eu que peço desculpa estava aqui viajando e nem te vi.

Despediram-se e seguiram seus caminhos confusos de destinos incertos. Ele sentou-se num banco e pôs-se a tentar devanear como já fazia antes da brusca interrupção que sofrera, foi quando deu-se conta de que não pensava em nada antes de interromperem-no. Quanto mais pensava menos conseguia lembrar de seus pensamentos anteriores.

Começou então a ser tomado por um sentimento incômodo de não ter em que pensar. Todo mundo tem no que pensar, oras. Por que justamente ele não conseguia pensar em outra coisa além da incômoda sensação de não conseguir pensar? A dúvida o torturava: teria ele algo em que pensar?

Levantou-se e pôs-se a observar os transeuntes. Todos sisudos, estariam eles imersos em seus mundos de problemas inexistentes e medos injustificáveis? Não tendo no que pensar começou a pensar sobre o que estariam os outros pensando.

Uma senhora caminhando do outro lado da rua tinha um olhar despreocupado, enquanto aquele homem de meia-idade que passava por ela naquele exato instante tinha um caminhar apressado. De cabeça baixa e cara amarrada facilmente seria comparado a um touro pronto para atacar.

Foi quando deu-se conta de que estava observando as pessoas então pensou consigo se alguém o estaria assistindo naquele exato instante. Deu um giro sobre si mesmo procurando seus possíveis observadores e nada encontrando voltou a observar os outros e tentar descobrir sobre o que eles pensavam.

Tomado por grande curiosidade decidiu que teria que decifrar o mistério. Uma jovem de uns vinte anos de idade vinha subindo a rua. Cabisbaixa, usava toca e cachecol para se proteger do frio e enquanto respirava soltava aquela fumaça resultado da diferença da temperatura corporal para o ambiente frio que a circundava. Resolveu perguntar o que ela pensava e imaginou grandes respostas sobre trabalho, família ou faculdade. Talvez o término de um relacionamento ou o início de um novo.


Assim sendo, quando ela ultrapassou-o ele soltou um grito:

- Hey!

Ela parou de andar e voltou a cabeça para ele, por sobre os ombros:

- Você está pensando no quê agora?

Ela voltou a caminhar com um passo ainda mais apressado e saiu balançando a cabeça, deixando-o na dúvida.

Um comentário:

Rachel disse...

Também estou na dúvida... O que vc estava pensando, quando escreveu esse post?