segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Limites ultrapassados

Nós estávamos nessa vida terrível de idas e vindas. Terminamos nos últimos três meses coisa de umas 7 vezes. Brigávamos pelos motivos mais banais, e reatávamos pelos menos importantes. Não havia nada que nos mantivesse unidos, nem nada que conseguisse nos manter separados.

Acredito que, nunca na minha vida, viverei algo tão intenso quanto o fim desse relacionamento. Agora que acredito que ele realmente tenha chegado ao ponto sem retorno, vejo que amadureci demais. Vivenciei sentimentos que jurava ser incapaz de sentir. Odiei, perdoei, odiei ainda mais e alcancei novamente o ápice do perdão. Quis vinganças, busquei serenidades e cheguei até a admitir que a situação estava fora do meu controle, coisa que, para mim, é praticamente impossível.

Depois de eventos descabidos, como eu me trancando no banheiro para não levar uma facada, ou ela correndo escada abaixo de camisola para não levar uma surra, finalmente cheguei à conclusão de que havíamos ultrapassado até mesmo o limite do irracional. Obviamente não foi uma decisão comum. Xingamos-nos, brigamos, nos agredimos fisicamente e no auge da briga começamos a nos beijar. Um beijo intenso, vívido e quente. Desses que imaginamos ser coisa de novela até nos acontecer.

Fizemos sexo. Um sexo sem limites, sem perversão e sem sentimento. Sexo puro e simples. Depois de terminado o coito eu limpei o canto da minha boca, que sangrava por causa de uns socos que ela havia me dado após desferir-lhe um tapa na cara. Olhei o sangue em minha mão e vi meu rosto marcado nas dezenas de reflexos no espelho quebrado, que milagrosamente manteve-se na moldura do guarda-roupas.

Ali eu entendi o grau de insanidade a que havíamos chegado. Sem falar nada eu retirei as malas de cima do guarda-roupa e comecei a jogar minhas roupas dentro. Ao ver a cena ela começou a pedir que eu não fosse embora, que eu era tudo que ela queria na vida. Vendo que não me abalei ante seus apelos ela se pôs a chorar e começou a me xingar. Xingou-me de uma maneira tão impiedosa que, por um milésimo de segundo ponderei recomeçar a briga que havíamos acabado de encerrar como dois animais no cio.

Quando fechei a mala e comecei a vestir a roupa que eu estava usando antes ela começou a me bater. Desvairada. Chorava, gritava, xingava e me batia. Eu estava tão decidido que parecia que não estava vivendo aquela cena. Eu apenas continuei me vestindo calado enquanto ela me batia e ficava cada vez mais fraca.

Perdeu as forças e sentou-se nua no chão, sem importar-se com os cacos de vidro espalhados, os restos de um porta-retratos com uma linda foto nossa. Botou a cabeça entre os joelhos e chorou todas as lágrimas do mundo. Um choro convulsivo e desesperador que sequer me tocou. Havíamos ultrapassado o limite há muito tempo, muito embora só ali eu tenha me dado conta.

Peguei a mala e sai porta afora. Quando cheguei ao térreo do prédio o celular tocou. Era ela. Eu apenas atirei o aparelho no espelho d'água na entrada do prédio, sem atendê-lo. Dirigi-me até o carro, acendi um cigarro e olhei pela última vez para a janela do apartamento onde morávamos. Joguei a mala dentro do carro e sai guiando sem direção até parar em um desses botecos de esquina, tão imundos na entrada que chega a dar medo de pensar em como é o banheiro.

Pedi uma garrafa de uísque e adormeci na mesa do bar, embriagado com aquele uísque falsificado.

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