quinta-feira, 12 de junho de 2008

Cretino conquistador

Ela sempre foi muito bonita, isso eu não tenho como negar, foi assim que a conheci: tentando conquistá-la. Ela estava em um vestido preto que mostrava o corpo esguio e aquele busto fenomenal. Estava conversando com uma senhora de uns quarenta anos excessivamente bem vestida para a ocasião e com uma maquiagem que parecia inspirada em bailes de carnaval. Aproximei-me com um copo de uísque na mão.

– A festa está bem animada, não acham?

Ambas me olharam com desdém e voltaram a conversar como se eu não estivesse ali. Eu fingi que aquilo não me abalou.

– É... nem todo mundo está animado. Frigidez é um problema sério. Tchau, minhas queridas.

A senhora fingiu que não era com ela, mas Mariane não resistiu. Ofendeu-se. Eu já estava virando de costas e saindo quando ela falou:

– Tchau, palhaço.

Voltei, abri o sorriso mais cretino que uma pessoa consegue simular e olhando nos olhos dela disse:

– Pelo menos você viu alguma graça em mim, já eu não posso retribuir a afirmação.

Sai sem esperar resposta e ela ficou sem reação. Ela sabia que era linda e ouvir de um homem que ela não o atraía era como uma bomba que seu orgulho não seria capaz de suportar.

Continuei: bebi, dancei e flertei com várias mulheres. A festa estava realmente bastante animada e cheia de mulheres bonitas. Dancei um xote com uma das mulheres mais bonitas da festa – minhas aulas de forró estavam realmente surtindo efeito. Ao fim da música eu pedi licença, fui ao banheiro e de lá ao bar, pra pegar uma água tônica. No caminho, Mariane me puxou pelo braço.

– Você é sempre assim?
– Assim como?
– Sem educação.
– Só quando a ocasião pede.
– Olha... foi mal, me desculpe mas eu estava já estava nervosa com o papo chato daquela senhora.
– Tudo bem, agora com licença.
– Ei, você vai aonde? Estamos conversando.
– Ah, estamos? Eu pensei que o assunto havia encerrado.
– Prazer meu nome é Mariane.
– Klaus.
– Nome diferente.
– Meu pai sempre achou bonito. Não gosto muito dele, mas como não tenho outra opção, acabo aceitando.
– E então, Klaus. De onde você conhece o Henrique.
– Estudamos juntos na faculdade. Ele comprava os trabalhos dele de mim, sabe.
– Que horror.
– O quê?
– Você colaborar com isso: vender trabalhos universitários.
– Só isso? Eu vendo até hoje. É um dinheiro fácil que eu não dispenso de forma alguma.
– Um absurdo isso.
– Deixa pra lá. E você de onde conhece o Henrique?
– A Juliana é minha prima.
– Ah, a Juliana é sua prima?
– É sim.
– Que interessante.
– Por quê?
– Porque a Juliana é praticamente minha vizinha. Somos muito amigos e ela freqüenta bastante a minha casa. Aliás, fui eu quem fez as apresentações dos dois. Engraçado eu nunca ter te visto por lá.
– Bem, não somos extremamente amigas. Somos primas e só. Ela me chamou pra vir à festa hoje porque minha mãe passou na casa dela e eu fui junto. Como não nos víamos há muito tempo me chamou pra festa.
– Ela e o Henrique são perfeitos, não? É o casal mais bacana que eu conheço.
– Nossa que termo.
– O quê?
– Bacana...
– O que tem?
– Tão... chulo.
– É meu jeito, se não te agrada...
– Você é sempre assim?
– Assim como?
– Sem educação.
– Só quando a ocasião pede.

Achei que a conversa deveria terminar ali mesmo e fui saindo, ela segurou meu braço novamente e me puxou de volta.

– Você é tão bonito, por que age desse jeito?
– Por que não agir desse jeito?

E fiz novamente o sorriso cretino. Aliás, esse sorriso cretino é minha marca registrada. Um sorriso de canto de boca com os olhos meio apertados: um charme só. Ela aparentemente ficou horrorizada com a resposta que porque soltou meu braço e ficou com aquele olhar vago, fixando o vazio. Acho que ficaria assim por um minuto inteiro se eu não tivesse intervido.

Aproximei dela, segurei seu rosto com uma mão enquanto colocava a outra na sua cintura. Ela pareceu despertar com um choque e assustar-se, mas não reagiu. Apenas me olhou. Eu olhei seus olhos, sua boca, aproximei meu rosto, puxei o corpo dela contra o meu e parei. Nossos lábios estavam bem próximos.

– E agindo assim, eu agrado?

Foi então que nos beijamos. Um beijo demorado e lento. Um beijo apaixonado. Enquanto a beijava eu acariciava seus cabelos e passava a mão por suas costas. Que pele macia, que cabelos maravilhosos. Acho que nunca vou esquecer a sensação que foi nosso primeiro beijo. Uma sensação deliciosa que sinceramente, nunca mais experimentei desde então.

Terminado o beijo permanecemos abraçados, nos olhando em silêncio. Estávamos nos admirando por alguns momentos. Ela era realmente linda e tinha um jeito muito carinhoso.

– Então...
– Então o quê?
– Isso é porque você não viu graça nenhuma em mim?
– Você viu em mim, isso me basta.
– Você é muito cheio de si.
– Eu transbordo egocentrismo.
– Percebi.
– E aproveitou também.
– Jesus amado, você não consegue deixar de ser assim nem um instante? – disse sorrindo.
– Assim como, sem educação?
– Não. Convencido.
– Ah, eu achei que eu era sem educação. Você muda de idéia muito rápido.

Ela sorriu. Pediu licença, disse que voltava e saiu em direção ao banheiro. Eu olhei o relógio, fui até a saída e pedi ao manobrista que trouxesse meu carro. Voltei à festa para me despedir do Henrique e da Juliana. Retornei à saída onde meu carro já estava esperando, dei uma gorjeta ao manobrista e fui embora.

5 comentários:

life 2 disse...

bom... gostei muito desse conto... e me espelhei em algumas partes, como no sorrisinho.... heheheh
mas espero q vc não tenha feito isso com ninguém...
aff...

=}

Unknown disse...

Oh, não, não... eu seria incapaz de fazer isso, mesmo porque mulher bonita me dar mole assim é coisa rara, depende do álcool... hahahahaha...

Anônimo disse...

Hummmm... Homem quando quer, sabe ser mais cruel do quê mulher. hehehe
Ótimo conto. =)
Depois retorno aqui e e te passo um link de um blog excelente também. Uma garota escreve contos de forma brilhante.

Daniela Andrade disse...

Hahahahahahahahahahaha

Já contou pra ela que o Klaus é seu alter-ego, amor?

(6)

Unknown disse...

Amarrei na história...

o cara teve atitude e não se deixou intimidar pela "beleza da mulher"

:D