domingo, 22 de abril de 2007

Samuel, o tarado hiperativo

O dia era calmo e tranqüilo, as pílulas eram realmente fantásticas. Samuel estava impressionado com o resultado. O céu estava mais azul, a grama mais verde, pareceu-le até que seu cabelo melhorara.

Neste momento ele se dirigia para a biblioteca da universidade, a mesma que ele abandonara anos atrás por causa de seu problema: Samuel era hiperativo. Por mais que ele tentasse não conseguia focar a sua atenção nas aulas, aliás não somente nas aulas, mas também no estágio, na televisão, no que lhe dizia sua namorada, sua mãe, seu pai seus irmãos e, ele nunca confessou para ninguém, mas o simples ato de comer era uma tortura. As idéias se atropelavam em sua cabeça perturbada.

Sim, perturbada pois Samuel além de hiperativo era um tarado nato. As idéias que lhe atropelavam a mente eram todas relacionadas a sexo. No segundo grau, nas aulas de geografia ele pensava se a vagina das japonesas era pequena como o pênis dos japoneses, se o tema era a África ele pensava se não seria o caso de oferecer sutiãs às nativas das tribos, as mesmas que sempre aparecem com o seios caídos nos documentários televisivos.

Nas aulas de história ele pensava em história... do sexo.

- Como inventaram o boquete? Em que época será que ele foi inventado? Será que os nobres franceses recebiam boquete de suas damas? Aliás, se até a Idade Média eles não tomavam banho freqüentemente, com certeza o sexo oral é uma invenção moderna.

Sua perturbação era tremenda. Ele parecia ver as professoras sem roupa, assim como as colegas de classe, a tia da limpeza, a até mesmo a própria avó: "Nossa, não é à tôa que os homens ficam impotentes quando velhos. É a melhor desculpa pra não comer carne seca".

Samuel, 21 anos, virgem de signo e de sexo. Um supletivo mal feito e uma faculdade meia-boca de Ciências da Computação no currículo. Talvez se tornasse um analista de sistemas, um programador, ou algum outro tipo de nerd viciado em pornografia virtual.

Samuel finalmente chegara à biblioteca. Carolina, a bibliotecária já o conhecia. Certa vez recebeu uma cantada enquanto ele tomava emprestados alguns livros da biblioteca.

- Não sei o que mais chama atenção nos seus seios, esse decote maravilhoso ou essa pinta indiscreta que parece chamar pelo meu nome.
- Talvez seja a capacidade natural que eles têm de atrair idiotas.

Realmente ele não tinha tato com mulheres.

Quando Samuel entrou na biblioteca Carolina prontamente retirou-se do balcão. Samuel, sempre imerso em sua pornografia mental não notou nada e encaminhou-se diretamente para a seção de humanas. Ele estava decidido que hoje seria o grande dia de usar o "Juquinha" para outra finalidade além de urinar e masturbar-se. Juquinha... ele batizara assim seu membro quando ainda estava no Jardim de Infância, um apelido para a vida toda.

Na seção de humanas ele sabia que tinha mais chances de se deparar com uma bela mulher. Procurou algo para se distrair enquanto esperava por uma vítima.

- Literatura, psicologia, nutrição, nada interessante... AH, MEDICINA!

Pegou o Atlas do Corpo Humano e ficou a estudar o gênero feminino, de novo. Samuel era um expert no assunto, embora sua habilidade prática se resumisse a ter masturbado a empregada uma vez, após drogá-la com o famoso "Boa noite Cinderela". Aquele seria o grande dia de sua vida se sua irmã mais nova não tivesse voltado mais cedo para casa.

Hoje nosso amigo não estava assim tão frenético, mesmo "lendo" sobre o assunto. Não sabia se atribuia sua apatia às pílulas que tomara de manhã ou ao fato de já ter repetido esse plano inúmeras vezes em sua curta e mal fadada vida universitária. Talvez fossem as pílulas, neste momento ele conseguia fantasiar a sua conversa com alguma estudante universitária.

- Quem sabe uma galega da fisioterapia, ou uma morena da nutrição.

As frases não se atrapalhavam com seu objetivo final, como sempre acontecera. Ele raciocinava linearmente, sempre focado no objetivo de conseguir sua primeira transa, mas ainda assim a conversa fluia naturalmente em sua cabeça.

Ele imaginava que ela chegaria e começaria a procurar por um livro na estante, então ele a abordaria:

- Hum... este livro não me parece tão interessante.
- Você já leu?
- Não, na verdade eu não gosto muito do autor, acho que o resultado das pesquisas dele são questionáveis.
- Como assim? Ele é um guru no assunto. Aliás pioneiro na área.
- Tá bom, eu confesso. Foi meu único argumento para chegar perto de você e ter o que conversar. Eu te achei tão linda...

Ela sorriria e diria algo do tipo:

- Tudo bem, meu nome é Adriana - sua imaginação fértil dera até mesmo um nome à vítima.
- O meu é Samuel. Olha, eu não quero de forma alguma te atrapalhar, mas, é realmente urgente que você fique aqui na biblioteca? Nós poderíamos, sei lá... sair e sentar em algum lugar, tomar um drinque e conversar.
- Tudo bem, o trabalho é pra daqui a uma semana, eu queria adiantar porque gostaria de sair este final de semana.
- Olha só que excelente idéia, mas começamos e já sei que posso ter a oportunidade de vê-la este final de semana.

Com essa frase ele a ganharia, iriam juntos ao boteco mais próximo, ele a encheria de cachaça e finalmente estrearia o Juquinha, seu único companheiro nas solitárias aventuras que imaginava no banheiro de sua casa. Sim, este seria o seu grande dia.

Neste momento uma garota oriental se dirige à prateleira mais próxima. Ela era magra, de estatura média, com um rosto redondo e seus cabelos negros e lisos, como uma cascata de luz negra absorvendo e refletindo tudo ao redor. Seu rosto era belo, mas o corpo aparentemente deixava a desejar, ou então era aquela roupa excessivamente comportada que dava essa impressão.

- Não é hora de escolher, eu não tenho motivo pra ser exigente.

Levantou-se e começou seu ensaiado discurso:

- Tem certeza que vai escolher esse livro?
- Alguém te perguntou alguma coisa?

"Droga eu não previ isso", ele pensa.

- Oh, me desculpe eu não quis parecer intrometido. Na verdade eu te achei muito bonita e procurei algum assunto para puxar conversa.
- Começou mal, hein.
- Tudo bem, eu vou voltar para minha mesa. Sinto muito.
- Ei, espera. Você sempre desiste assim tão fácil?

Ao falar isso ela sorriu. Um belo sorriso, se tirasse o aparelho ficaria melhor... se bem que o aparelho dava a ela um ar mais juvenil. Parecia uma adolescentezinha.

"Hum... livro de direito. Quem sabe ela pense que eu sou um cara sério se eu contar umas mentirinhas".
- Na verdade, eu não tenho muita prática, terminei um namoro de 3 anos há dois meses e essa é a primeira vez que me interesso por alguém.
- Meu nome é Maíra.
- O meu é Samuel, prazer em conhecê-la.
- Bem, e então, o que pensa em fazer agora Senhor Inexperiência. Vamos ficar em pé conversando ou você vai me convidar para fazer alguma coisa?

"Beleza!!!"
- Enquanto eu a via procurar o seu livro eu pensei nisso, mas não quero atrapalhá-la a fazer sua pesquisa.
- Oh, em absoluto. Eu vim pegar o livro para levar para casa. Indicação de uma amiga.
- Tem um barzinho bacana aqui perto, você conhece?
- Espero que não seja o "Bola 8".
- Não eu falei do barzinho bacana, eu só convido para a sinuca meus camaradas da reitoria.
- Você trabalha aqui?
- Faço estágio. Eu deveria ser um programador, mas na verdade só conserto computadores quebrados e tiro papel de impressoras enguiçadas. Saio essa semana.

"Assim você não sente minha falta quando NÃO me vir por lá, hehehehe..."
- Legal.
- E então, vamos?
- Deixa só eu registrar o empréstimo do livro.
- Tudo bem eu te espero lá fora.

Samuel saiu e esperou.

"É hoje!!! É hoje!!! É hoje!!!"

Maíra apareceu na porta da biblioteca:

- E então cadê o seu carro.
- Na verdade eu o vendi ontem, vou comprar outro mais novo. Um Celta 0Km. Parcelas a perder de vista, mas sem problemas de manutenção.
- E então como vamos?
- A pé mesmo. O "Tchebarana" é aqui perto.
- Certo.

OK, OK... todo homem sabe o que significa uma expressão afirmativa feminina acompanhada daquele vago desvio de olhar. Todo homem, exceto Samuel. Apesar de estar mais controlado pelo remédio receitado pelo psiquiatra ele ainda estava aéreo. Samuel não percebera o tamanho do salto da garota, muito menos se importara em carregar o Vade Mecum por ela a fim de aliviar-lhe o transtorno da caminhada.

Para sua sorte o bar era realmente perto e ela resolveu não se importar tanto. "O recanto do universitário" essa era uma frase estampada no menu do bar, e de fato a clientela era composta quase que exclusivamente por estudantes.

- Nossa, o ambiente é tranqüilo. Não conhecia aqui ainda.
- É seu primeiro semestre na faculdade?
- É. Olha lá, parece que tem música ao vivo aqui.
- Sim, mas só à noite, durante o dia o palco fica desmontado. Acho que vai ter algo hoje a bateria está lá em cima.
- Nossa, acho que já sei onde vou passar a maior parte do meu curso.

"YES!!! CACHACEIRA NATA"
- E então, Maíra. O que vai ser? Eu vou de Marguerita.
- Uma caipirinha pra mim.

"Sabia... É hoje!!!"
- Garçom. Ei, amigo... aqui! Uma Marguerita e uma caipirinha, por favor.
- É pra já, senhor.

O garçom saiu. Enquanto esperavam os dois jovens conversaram sobre amenidades e aproveitaram para saber coisas específicas, porém inúteis a respeito um do outro. Signo, idade, onde moravam, essas coisas que mais parecem uma apresentação em alguma sala de bate-papo na internet.

Por fim, a bebida chegou. Samuel ficou impressionado com a velocidade que Maíra "degustava" sua caipirinha. Resolveu pegar leve e beber seu drinque devagar. E assim, no embalo da bebida foram se soltando mais. Samuel sempre dosando a bebida e Maíra secando os copos como se estivesse comemorando por ter sido contemplada no consórcio de uma casa nova.

Em pouco mais de uma hora ela estava completamente embriagada, e Samuel duplamente alegre. A alegria do álcool somada à euforia de finalmente usar o Juquinha.

- Sabe, Maíra. Essa distância está me deixando louco...

Levantou-se da cadeira e a colocou ao lado dela. Sentou-se:

- Já tem algum tempo que eu não escuto o que você diz, eu só consigo olhar para sua boca e...

Beijou-a. Ela correspondeu. O gelo fora quebrado.

"Mais algumas doses e eu como essa japoronga".
- Meu copo tá vazio. Pede uma dose de Tequila pra mim, essa é a saideira.

A voz já começava a se tornar pastosa, embargada. Samuel continuou a beijá-la. Resolveu ser mais ousado e apalpou a parte interna de sua coxa, ela nada falou, um excelente sinal, ou não... talvez fosse efeito da bebida.

- Maíra, eu estava pensando. O que acha de sairmos daqui e irmos para um local mais reservado. Com menos gente, sem platéia.
- Você já tá querendo me comer. Putz...
- Hum... melhor deixar pra outro dia então.
- Não... não... putz... você desiste muito fácil. Se impõe, cara.
- Eu estou louco pra arrancar sua calcinha com os dentes.
- hahahahaha... assim tá melhor. Só tem um detalhe...

"Ai caralho, lá vem merda".
- Na verdade são DOIS detalhes.

"PUTA MERDA..."
- Quais seriam, linda?
- Primeiro: Eu tô sem dinheiro pra rachar a conta contigo.
- Sem problemas eu recebi hoje.

"Eu estou com o cartão de crédito da minha mãe".
- Segundo: eu tô menstruada.

"AAAAAAH... só isso... eu como tudo com catchup mesmo".
- Por mim não tem problema.
- Por mim também não, na verdade eu fico com mais tesão. Paga a conta aí e vamos.

Samuel levantou-se e enquanto ia para o caixa fazia contas mentalmente para saber se o dinheiro que tinha na carteira dava pra pagar um taxi até o motel mais próximo.

- R$ 60,00... dá e sobra.

Ligou para um táxi de seu celular, pagou a conta e voltou para a mesa. Terminaram seus drinques enquanto esperavam pela chegada do táxi. Aproveitaram para se dar uns amassos.

O táxi chegou, entraram.

- Pra onde chefia?
- Petit Noir.
- Se segura aí atrás, hein. Não quero ser parado de novo por ter um casal se chupando no banco de trás.
- Você é um escroto - respondeu Maíra.
- Fique tranqüilo - amenizou Samuel.

"É hoje!!! É hoje!!! É hoje!!!"

Foram para o motel. Desceram do táxi, reservaram um quarto e subiram as escadas na maior empolgação, quer dizer, na medida do possível. Maíra quase caiu mas Samuel a segurou.

Entraram no quarto, Maíra tirou a comportada roupa que vestia. Samuel ficou fascinado com o seus seios. Quem diria que aquela magrela teria seios tão maravilhosos. As auréolas um tanto quanto escuras, diferente do que sempre sonhara, mas lhe pareceram perfeitas mesmo assim. Começaram a se atracar, e nada do Juquinha responder.

Beijos, amassos, chupões, mão naquilo, aquilo na mão. O básico de qualquer início de transa... mas nada do Juquinha se manifestar.

- O que houve?
- Ahn, não sei isso nunca me aconteceu.
"Puta que pariu quê que tá acontecendo? Nossa, eu devia ter pensado em uma frase melhor".
- Tem algo de errado comigo?
- Não, você é perfeita. Maravilhosa... vem cá, me dá um beijo.
- Espera que eu já dou um jeito nisso.

"YES!!! MEU PRIMEIRO BOQUETE!!! UHUUUUUUU".

Maíra se levantou e começou a dançar. Parecia que ela queria fazer um streap-tease, mas ou o álcool a estava atrapalhando ou ela aprendeu a dançar assistindo pavões cortejando suas fêmeas no Discovery Channel. Não era bem isso que ele tinha em mente para a sua primeira vez. Aliás ele já tinha pensado em tudo, imaginado de tudo... menos aquela coisa esquisita.

Maíra continuou dançando, requebrando, rebolando e remexendo, até que perdeu o equilíbrio e caiu em cima da cama.

- Porra, eu já fiz de tudo e você não reage. Você é broxa?
- Existe uma coisa que você ainda não fez.
- O quê?
- Bem, você sabe.
- Aquilo? De jeito nenhum, botei o aparelho hoje.
- Então, toca uma pra mim.

Ela atendeu prontamente o pedido. Parecia uma ninfeta insana, louca por sexo. Seu olhar fixo no membro parecia manifestar uma insaciedade voraz. O Juquinha, todo esfolado não dava sinais de vida.

- CARALHO, EU AQUI LOUCA PRA DAR UMA E ACABO ARRUMANDO UM MALDITO BROXA.
- Calma, Maíra, é... é...
- É O CARALHO DE ASA MESMO, SEU BROXA.

Levantou-se, vestiu-se e saiu desabaladamente porta afora. Samuel ficou sentado na cama, pelado. O Juquinha cabisbaixo permanecia alheio a toda confusão.

- Não acredito... não acredito... JUSTO HOJE!!! É nisso que dá bater tanta punheta! Puta merda, minha mãe vai me matar, esse motel é caro pra caralho!

No grande dia de sua vida, no grande momento pelo qual esperou por tantos anos ele falhou. Na verdade nada disso teria acontecido se ele tivesse lido a bula do remédio.

REAÇÕES ADVERSAS:
- Não ingerir bebidas alcóolicas durante o uso. Depressor do sistema nervoso central, pode causar disfunção erétil.

11 comentários:

Daniela Andrade disse...

Ken, o namorado gay da Barbie
[hehehehe]

Mandou pra qual e-mail? Só tenho acessado a internet no trabalho [o que significa que só abro o e-mail do trabalho], então se for o caso manda pra daniela.rodrigues@ac.trf1.gov.br

gostei da idéia de montar a equipe...só me preocupa a questão do estilo. Será que vai dar certo?

Saudade imensa de você, amor meu!

Beijos!

Dani

Daniela Andrade disse...

bom, se a idéia é justamente a diversidade de estilos, eu topo sim! vamos ver no que isso vai dar.

aguardo instruções [hahahaha]


=*

Daniela Andrade disse...

só pra constar: adorei o samuel.

m.elissa disse...

nossa, pobre samuel.
haiuehaiuehiuh

imaginei a japa bêbada fazendo a dança do acasalamento...realmente, com ou sem depressor do sistema nervoso central, essa seria uma cena um tanto...broxante.

e putz...usar o mouse com a esquerda deve ser coisa de outro mundo.
se pra fazer as unhas eu passo um sufoco...

pior...sem desenhar no msn não dá. ):
não se vive sem isso! )`:
hauiehauieh

obs.: bem que tu disse (no post nos hermanos) que postava em um milhão de blogs hein... ¬_¬"

m.elissa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniela Andrade disse...

agora formamos uma equipe! [será que isso causa medo nas pessoas?]


um conto por semana? não sei se consigo produzir em larga escala, mas a gente tenta, vou deixando uns projetos de lado.


adoro a idéia da hires participando da equipe, não sei se ela vai ter tempo, devido ao mestrado. ainda assim, a convide, inclusive no meu nome.


Beijo!

Daniela Andrade disse...

formamos uma boa dupla

;)

o que você acha desse conto no blog semana que vem?

Daniela Andrade disse...

hey, aqui é onde tiro minhas dúvidas [eu podia te passar um email, mas como só pensei nisso agora, vai aqui mesmo]:

você não prefere dar uma lida nos meus contos antes de publicar?

pode até preferir, mas vou publicar do mesmo jeito, tu sabe que sou foda

hahahahaha

Daniela Andrade disse...

nossa, que imagem agradável de você coçando o saco!

hahahahaha

hires héglan disse...

eu aceito participar se os meus podem ser "os menores contos do blog"! Eu sou uma criatura que escreve pouco!

Posso?

Anônimo disse...

O Reações adversas fecha com chave de ouro!!! kkkkk...