sexta-feira, 27 de abril de 2007

Pesadelos

Segunda-feira, 03:00h. Eu acordo naquele estado mórbido de quem acabou de ir se deitar, embora eu o tenha feito às 22:00h. O quarto está completamente tomado pela escuridão e pelo silêncio. Já há bastante tempo que meu sono vem se tornando pesado demais, cada vez mais difícil de acordar. Não bastassem os pesadelos. Toda vez que eu acordo meu corpo está completamente paralisado, tamanho o medo que eu sinto. Eu andei pesquisando dizem que o nome é catalepsia, para mim é apenas medo.

Maldita fera, quase me pegou, venho sonhando com ela noites e noites seguidas. Para ser mais específico sou perseguido há mais ou menos três meses. Dentes, olhos, bocas, garras e chifres. Poucas vezes ela tem a mesma aparência, mas eu sei que é ela, aqui dentro eu tenho a certeza de que sempre é ela, e não importa o que eu faça, ou quanto eu corra, ela parece ser invencível.

Eu permaneço deitado, tentando mexer a perna que a maldita me arrancou, mas que eu sei que ainda está presa ao meu corpo. Porra, foi apenas um sonho, mas eles estão cada vez mais reais!

- Mexe... mexe... mexe...

Ela se mexe, e quando ela se mexe eu sinto um choque percorrer por todo meu corpo, essa é sempre a pior parte quando eu recobro o auto-domínio. Finalmente, a sensação de estar livre. Eu me sento na cama, me curvo e apoio os cotovelos sobre minhas pernas, o rosto entre as mãos. Quando é que isso tudo vai acabar?

Espero meus olhos se acostumarem à escuridão. Já consigo delinear o vulto do armário, o criado-mudo ao meu lado e a Bíblia em cima dele. Eu a pego e fico a olhá-la, no escuro.

- Você precisa aceitar Jesus... sei.

Levanto-me e jogo a Bíblia na lixeira antes de ir ao banheiro urinar. Não importa quantas vezes eu faça isso, no dia seguinte essa maldita Bíblia aparece em cima do criado-mudo novamente. Sempre tem alguém para colocá-la lá de volta: a empregada, minha mãe, minha namorada. São todos loucos, e por fim estão me enlouquecendo. Desgraça.

Termino no banheiro, aciono a descarga e acendo a luz do quarto. A mesma bagunça de sempre. Revistas, camisas e cuecas sujas. Não consigo entender essa fixação pela organização padrão que todo mundo tem. Se eu sempre sei onde achar qualquer coisa no meu quarto, então para quê deixar alguém entrar aqui e fuçar nas minhas coisas? Eles sempre tiram tudo do lugar. Houve um dia que minha mãe mudou até o armário e a cama de lugar. Loucos, todos eles.

Volto para a cama, me sento e começo a divagar, tentando encontrar um motivo para os pesadelos. Já li tudo a respeito. Mensagens que o subconsciente grava e que podem ser abertas para o consciente durante o sono. Mas que mensagens seriam essas? Eu parei de ler revistas em quadrinhos, de jogar em video-games e computadores. Puta merda, eu até comecei a ler a porra da Bíblia! Qual seria a solução? Os desesperados não têm chances, porque estão desesperados demais para enxergá-las, essa é a mais pura verdade. Provavelmente a solução está debaixo do meu nariz e eu não a enxergo porque estou desesperado demais para enxergar qualquer coisa.

Engraçado, como o desespero nos torna lúcidos, ou como nossas loucuras e incoerências nos parecem lógicas quando estamos desesperados. Desespero... desesperança... perder a esperança. Esperança... esperar... aguardar... Aguardar o quê, diabos!? Eu sou apenas mais um homem que passa pela Terra, quem sou eu para aguardar alguma coisa? Melhorando ainda mais a pergunta: o que aguardar de apenas mais um homem que passa pelo planeta. Eu vou morrer e minha maior obra talvez tenha sido plantar o limoeiro no meu quintal.

Eu plantei uma árvore, meu legado para o futuro. A quase totalidade dos homens que passam por aqui nem mesmo fazem isso. Se eu for analisar por este lado é algo positivo, mas quando penso na quantidade de lixo que eu gero: tocos de cigarros, garrafas de cerveja long neck, latinhas, pacotes de salgadinhos, embalagens de produtos diversos. Eu sou um monstro! Mas quem não o é hoje em dia?

Ouço um pipoco na rua e alguém começa a gritar. Eu apago a luz rapidamente e vou pra janela ver o que está acontecendo. Tem um rapaz com a perna sangrando se arrastando em frente à minha casa. Ele grita horrendamente. Aposto que o bairro inteiro está ouvindo, mas não vejo nenhuma luz acesa em nenhuma casa. Aposto que estão todos com suas cabeças escondidas atrás das cortinas assistindo o jovem morrer. Uma história para contar. Apenas mais um que passa pelo planeta. E eu que sou o monstro.

Decido não tomar parte nisso. Eu sei que todos estão assistindo ao show de horrores, mas eu também sei que eu sou diferente. Não tomarei parte disso!

Fecho a cortina e me deito novamente. Coloco o travesseiro por cima da cabeça tento voltar a dormir. A besta-fera me amedronta menos que a realidade.

4 comentários:

hires héglan disse...

hiresheglan@gmail.com

é o que eu uso no meu blog

hires héglan disse...

ok! tô dentro!

Daniela Andrade disse...

cara, aqui a coisa é séria, não acesso MSN nem web mail..mas vou aceitar o seu convite daqui a pouco e já tenho dois contos pra postar.

beijo, colaborador.

hahahaha

Daniela Andrade disse...

final de semana super ultra mega power blaster complicado, sem tempo nenhum pra net...vou aceitar o convite hoje à noite, ok?


=***